Existem 37 borboletas verdes vivendo no quarto atrás da porta de madeira de carvalho no castelo no fim da estrada. Elas são as únicas habitantes do castelo desde a morte da ultima condessa. Seu nome era Marie. Ela tinha olhos castanhos, pequenos e opacos, como olhos de rato.
Existe um nome gravado no 15º banco de frente pra trás na igrejinha que só pode ser vista por cima do pinheiro. Elena. É o único banco que recebe a luz vermelha dos vitrais no verão e é o que fica mais perto do aquecedor no inverno.
Existe uma fita presa na cerejeira no jardim de Miss Nancy. Dizem que uma garotinha o prendeu ali, 150 anos atrás. A mesma fita que ela soltou de seu vestido e correu de roupas de baixo até a quitanda, com seu gato preto e zarolho embaixo do braço para comprar bombas de chocolate.

30 segundos. Mais 30 segundos e Marie iria embora. 30 segundos e ela e Snuggles sairiam dali, correriam até o salgueiro e marcariam o último dia. Então roubariam maçãs na quitanda e iriam até a casa Miss Charlotte e voltariam pra casa quando começasse a chover. Quando a fita na árvore ficasse cor de folha e os cabelos de Elena tão pesados que ela mal conseguiria balançar a cabeça, essa seria a hora de voltar pra casa e esperar silenciosamente pelo dia seguinte.
Elena imaginava com os pés sobre a cama e as costas no chão. 23 segundos. A grama la fora da cor de seus olhos. A cor do verão na Estíria. Sempre verde onde quer que ela fosse. Um verde bonito, um verde brilhante, como no poema. Um verde veludo. Um verde pálido. Mamãe costumava cantar. Dois verdes vômito. Um verde musgo. O último verde da primavera, lutando pra escapar do marrom do verão.
16 segundos. Vá embora, Elena. Volte pra casa. Ela consegue sentir a grama nos pés. O cheiro do lugar preferido no mundo todo. Ela vê borboletas voando atrás dela. Toda aquela liberdade que Marie tomou depois que papai e mamãe morreram. Mas não mais. Agora ela é livre. Não está mais consciente do piso em suas costas, ou do som do aquecedor. Está em seu mundo. Cercada do verde, do seu verde.
Vá embora, Elena. O sussurro fica mais alto, mas ela não pode. Não pode voltar ao marrom. Odeia o opaco. Vá embora, Elena, por favor. Não, Snuggles, por favor, a deixe ficar. É aqui que ela pertence. É aqui que ela existe. Em qualquer outro lugar ela apenas subsististe.
7 segundos. Não é Snuggles, ele saiu. Ouviu o som do carro descendo o morro e ganhando velocidade, e pulou pela janela fazendo com que ela batesse. Snuggles não está lá. Marie está indo embora. Elena?
Ela está em seu próprio mundo, perseguindo borboletas, embaixo da arvore. Absorta demais para ouvir o som do aquecedor. Envolvida demais para sentir o cheiro de gás... Até que seja tarde demais.