Oi oi oi. Tudo bem com vocês? Como vai a vida? Como vai a escola? (falando nisso tá na hora de eu fazer a lista de notas da escola pra ver quanto falta de uma vez. Eu achei meu boletim do ano passado no meu diário e aquilo me deixou até envergonhada... Ai peraí, eu tô divagando de novo).
Enfim como prometido, mesmo com uma semana de atraso, aqui está uma versão totalmente atualizada de Haunted conto que deu origem a Ellie, a primeira vampira transformada por Kat em As Crônicas de Kat que estreia dia 28, às 21hrs, aqui no blog e também primeiro conto que eu escrevi e postei, lá nas terras longínquas de 2011 na época em que o blog ainda era o puccasecrets. Espero que vocês gostem.


Uma das necessidades da mente humana é entender tudo que acontece à sua volta. Em um mundo de milhões de anos e bilhões de habitantes não há sequer uma pessoa que entenda tudo. Por isso o conhecimento antigo é passado a cada geração. Entretanto ninguém pensa ou compreende as coisas da mesma forma, então quem pode nos garantir que o que sabemos e conhecemos hoje é a verdade? Quem pode separar o mito da verdade? E se a mensagem que os povos antigos estivessem tentando passar fosse outra?

Paris, 31 de outubro de 1864
Em um país como a França, quando existe medo na capital, existem grandes chances de se tornar pavor nacional. As mortes que fizeram a rua do Orfanato Pepot receber dos jornais o título Rue Sainx, são um excelente exemplo.
Mesmo sendo noite de Halloween e tendo visto o que vi há alguns dias, eu sigo pelos corredores estreitos, espalhando "Bonnes soirées" cada vez que encontro alguém. Quando viro na rua do orfanato sinto meu coração saltar ao ouvir um grito. O som é agudo e desesperado, como alguém precisando de ajuda. Corro na direção dele imaginando que seja alguma criança precisando de ajuda. Mas quando paro na frente do orfanato me deparo com um silêncio que só pode ser definido como de túmulo. Então me lembro da lenda:
Era a noite de Halloween de 1856 no orfanato. A Srª Pepot nunca gostou do dia das bruxas. Ela é religiosa e costumava dizer que era como comemorar a existência de demônios. Já Mary, dizia que as crianças tem que ver o lado positivo de comemorações. De qualquer jeito, eu só tinha sete anos quando a Srª Pepot reuniu todas as crianças para contar uma história:
- Dizem que esse orfanato foi construído em cima de um local de rituais satânicos. E que diversas feiticeiras morreram aqui em 1358. As bruxas em questão por vingança quiseram mandar seus pequenos amiguinhos do inferno para amaldiçoar esse lugar. E eles passam todo outubro observando o local.
"Quando Jean me contou isso, eu pedi que ele abandonasse a casa, mas ele não quis. Preferiu ficar por vocês. Por isso oramos todas as noites, crianças. Para nos protegermos deles. Nunca se sabe que demônio você vai encontrar aqui em outubro. E nunca se sabe o que ele vai fazer com vocês. É impossível fugir. Se acontecer com vocês, só peçam uma morte rápida. Assim poderão ser poupados de muita dor."
Não preciso dizer que não dormi aquela noite.
Abro a porta a minha frente com a voz de Srª Pepot, ecoando:
- É impossível fugir.
Ouço outra vez o grito desesperado, que agora me paralisa. Sinto meus olhos se encherem de um liquido que não consigo identificar e que os faz queimar. O liquido em questão escorre até meus lábios e ao tocar com a língua descubro que é exatamente o que temia. Posso sentir, gotas e mais gotas de meu sangue escorrerem através de meus olhos sujando meu vestido e até meus sapatos. Sei que pode ir embora se eu parar de chorar mas não consigo. A ideia de uma morte dolorosa e trágica aos quinze anos parece ridícula, até que ela seja iminente.
- Nunca se sabe que demônio você vai encontrar aqui em outubro. E nunca se sabe o que ele vai fazer com vocês.
Eu fecho os olhos tentando evitar as gotas de sangue que deixam a sala com cheiro de metal. Ouço passos na escada que me deixam tensa. E então paro de ouvir qualquer coisa.
Sou tomada por uma dor lancinante, como uma enxaqueca que parece vir de todos os meus ossos e se espalha por meu corpo me tirando todo o ar. Eu poderia gritar, mas dói tanto que minha boca não pode se mexer. Eu fico paralisada de dor.
- Se acontecer com vocês só peçam uma morte rápida. Assim poderão ser poupados de muita dor.
Eu começo uma lenta oração, entrecortada por pura agonia, pedindo para que pare. Então sou capturada por olhos azuis tão claros quanto o céu em um dia ensolarado.
- Eleanor. Sabia que viria.
Então tudo é uma sequência infinita de dor. E quando parece que o fim é impossível, vem o silêncio.
Ouço vozes. Sinto frio. Não, é mais do que frio. Me sinto fraca como se qualquer força vital tivesse sido esgotada e ainda estivessem tentando roubar mais. Respirar se torna a coisa mais difícil do mundo e falar está fora de cogitação. Então eu espero. Apenas espero.
É como se acompanhasse uma cena distante. Ouço o barulho de algo gotejando e sei que é meu sangue pelo cheiro. Sei que estou afogada em uma poça com meu sangue, como aquela garota que vi há alguns dias. Mas a lembrança vem cheia de uma névoa perturbadora. Minha garganta queima, assim como meus olhos, e sou forçada a acompanhar tudo isso sem poder fazer nada para impedir. Isso é a morte? Não deveria doer.
Então eu ouço outra vez as vozes.
- Ei, ela está viva!
- Você consegue me ouvir?
- Acho que não.
- De qualquer jeito, temos que levá-la.
- Certo, vou carregá-la.
Então tudo fica escuro outra vez.
Quando abro os olhos, a primeira coisa que vejo é o mar. Em seguida percebo que estou deitada em uma cama com dossel olhando para a janela de um quarto cor-de-areia. Me sento olhando em volta e tentando me lembrar.
- Ah, você acordou. - Uma mulher diz entrando no quarto, segurando um vestido.
Ela tem um leve sotaque inglês por trás de um Francês impecável. Tem a pele de um tom oliva, olhos castanhos e os cabelos muito cacheados caindo sobre os ombros. É só um pouco mais alta que eu e parece ser só um pouco mais velha também, apesar de eu não fazer ideia de quantos anos tenho. Olho para o espelho a minha frente e respiro fundo tentando lembrar quem é a estranha de cabelos escuros e olhos azuis gelo à minha frente.
- Meu nome é Faith. - Ela diz se sentando a minha frente - E o seu?
- Eleanor. - Diz um homem entrando no quarto. - Eleanor Pleu-rer. - Ele diz o último nome devagar e uma parte de mim sabe que ele só faz isso para destacar o fato de eu ser uma órfã.
- Ellie?
Ele balança a cabeça. Vai até a penteadeira. Eleanor. Esse nome não faz sentido para mim.
- Desculpem-me. - Digo cobrindo a perna com uma mantinha. - Vocês podem me dizer o que aconteceu?
- Não se lembra? - Faith pergunta.
- Não. De nada.
- Isso é bom, Peter?
- Eu não diria exatamente bom. - Peter diz cruzando os braços.
Eu suspiro. Como não sei o que aconteceu não sei o que pode ser bom ou o que pode ser ruim.
- Diga sua teoria. - Ela diz, em inglês, que por algum motivo eu entendo.
- Você pode achar ridículo, mas eu acho que foi um íncubo.
- Como?
- Um íncubo. Conhecido demônio que procura mulheres indefesas e as ataca.
- Certo. Você sabe que eu sou bem cética em relação a isso, mas as lendas não dizem que o íncubo procurava mulheres adormecidas?
- Como você mesma disse é uma lenda. Ele é o mais próximo de um vampiro que existe. Ele precisa de sangue. E raramente deixa suas vítimas vivas.
- Mas ele a deixou viva.
- É isso o preocupante. O único motivo pelo qual o íncubo deixa suas vítimas vivas é reprodução.
Faith leva 30 segundos para entender. Então prende a respiração.
- Mas... Ela tem quinze anos.
- Não é o tipo de coisa que um demônio respeite.
Faith balança a cabeça sem olhar para mim. Imagino que eles pensem que eu não posso entender o que dizem.
- Como você sabe tanto?
- Meu avô era exorcista.
- Conte-me tudo. - Ela diz com uma ênfase nervosa.
- Certo. O íncubo geralmente está preso a um lugar ou a uma linhagem sanguínea. No caso de Eleanor provavelmente tem algo a ver com o lugar, mas deve existir um motivo para ele ter deixado Ellie viva e não outra pessoa. Ao contrário do que as pessoas pensam, o íncubo não é como um espírito. Ele é mais como um parasita. Ele suga toda alma do hospedeiro destruindo-a e usa o hospedeiro para matar e reproduzir, antes de se livrar da casca vazia.
- E o que exatamente esses "bebês" se tornam?
- Meio humanos, meio demônios.
- O que exatamente isso significa?
- Não sei dizer ao certo, Faith. São muitas lendas e muitas histórias para conseguir distinguir a verdade do que é só lenda. E de acordo com o que dizem, não existe um bebê meio demônio há mais de 400 anos. Eles geralmente morrem antes de atingir a idade adulta.
Ela se vira e me lança um olhar triste.
- E o que isso significa para ela?
- Nós temos que ser realistas. Não acho que isso vá acabar bem.
- Eleanor pediu para que cuidássemos dela, Pete. Devemos isso a ela.
- Eu sei, querida. Vou fazer o máximo que puder para salvá-la, eu prometo.
Peter a abraça e eu me encolho na cama.
- Vocês podem me dizer o que aconteceu? - Repito.
Faith desvia dos braços de Peter e se senta na cama a minha frente.
- Você estava no Orfanato Pepot no Halloween. Foi atacada e perdeu boa parte de seu sangue. Ficou desacordada por quatro dias.
- Não é só isso... Eu não me lembro de nada.
- Nada?
- Também está nas lendas. - Peter diz em inglês - Ele vai tirar tudo dela, Faith.
Vejo lágrimas se formarem nos olhos dela, mas ela as controla.
- Existe muito que deve saber, Ellie. Mas agora... não está com fome?
- Sim. Muita.
- Trarei alguma coisa. Acha que consegue se trocar?
- Claro.
- Então a deixaremos sozinha durante alguns minutos. Peter.
Peter sorri e sai do quarto acompanhando Faith.

- Eu conheci sua mãe em 1809 em Londres - de onde nós duas somos. Assim como eu e Peter, ela pertencia a uma espécie diferente. Não sei como poderia explicar para você. Apenas considere que somos imortais.
Eu balanço a cabeça concordando. Olho outra vez para a janela e para o mar.
- Em 1845, ela conheceu seu pai. Ela o amava de verdade e desistiu da imortalidade por ele. Se mudaram para Paris quando ela já estava grávida de você e só voltamos a nos ver em seu batizado. Quando você tinha dois anos, eu li a notícia de que um incêndio havia acontecido em Paris deixando apenas uma garotinha viva. Não recebia notícias de sua mãe haviam meses e senti imediatamente que aquela garotinha era você. Corri até a França, mas cheguei tarde demais. Acabei perdendo você e passei os últimos anos a procurando. Foi por isso que fomos ao orfanato. Você cresceu lá e estava trabalhando lá há algumas semanas, substituindo Mary. Ela entrou em contato com a gente quando soube que a procurávamos. Quando eu e Peter chegamos lá, encontramos a verdadeira carnificina. Todas as crianças, Mary e um garoto que não conhecemos estavam mortos. Madame Pepot não pode ser encontrada. E você estava desmaiada na poça do seu próprio sangue. Você tem sorte em não se lembrar.
- Desculpe-me, mas eu não vejo nenhum machucado, como eu posso ter perdido tanto sangue?
- Digamos que Peter e eu não achamos que tenha sido... Um acontecimento normal.
- Seria algo como um demônio?
- Sim. Como o vampiro das histórias antigas, mas de uma forma diferente.
- Mesmo assim, eu não estou machucada. Como ele pode ter tirado meu sangue?
Faith desvia o olhar imaginando como dizer isso para mim. Então eu me lembro. A dor lancinante, o cheiro forte de metal, a paralisação, o demônio entrando em meu corpo. Então a dor me possui outra vez. Ouço meus gritos através de uma névoa de dor. O som queima meus ouvidos e eu sinto meus olhos arderem como se estivessem em chamas. Quando tudo passa, estou agarrada a Faith com a respiração ofegante.
- Está tudo bem, querida. - Ela sussurra.
- Acho que isso confirma o que eu pensava. - Peter diz se sentando na cama.
Eu permaneço encolhida nos braços de Faith com medo e suando frio. Peter suspira.
- Você terá que ser forte, Eleanor.
- Vocês acham que aquela coisa deixou um filhote em mim. - Digo, soluçando. - Estou com medo
- Vai ficar tudo bem, Ellie. Eu prometo.
- Faith, eu sei falar inglês.

Faith e Peter saem do quarto quando eu começo a cochilar. Mas não pego no sono antes de ouvir eles conversarem no quarto ao lado.
- Foi a primeira vez que ouvi você mentir. - Peter diz, calmo.
- O que você queria que eu dissesse? Que ela vai morrer? Ela tem quinze anos, Pete. Eu não imagino como ela vai poder conviver com o fato de ter perdido as pessoas que conhecia em um massacre, ter sido atacada por um demônio e ainda estar carregando uma criatura dele se ela não tiver uma perspectiva de final feliz?
- Eu sei que isso a deixa triste, mas temos que ser sinceros com ela. Ela vai precisar ser forte para enfrentar isso.
- Eu sei. Mas estou com medo.

Acordo na manhã seguinte e visto o vestido que Faith deixou em cima de uma cadeira. Quando olho no espelho, deixo minhas mãos caírem sobre o volume sob o vestido. Prendo o cabelo, me controlando para não chorar. Não tenho sequer nove meses. No máximo alguns dias. Engulo em seco e saio do quarto indo até a cozinha onde encontro Faith cozinhando.
- Bom dia. - Digo indo até o fogão onde ela está.
- Bom dia, querida. Está se sentindo bem?
- Dentro do possível. Vim para ajudar.
- Não precisa, Ellie. Você precisa de descanso.
- Não por enquanto. Eu posso ajudar agora.
Faith me entrega uma vasilha onde ela tinha começado a bater um bolo para o café da manhã. Começamos a conversar. Ela me conta histórias sobre minha mãe e até começamos a rir. É uma sensação boa.
Quando o café fica pronto, comemos. Peter foi para Paris. Então quando acabamos sinto sangue escorrer pelo meu nariz. Faith está ao meu lado antes que eu possa perceber.
- Ah, querida.
Eu tosso e cuspo sangue. Faith me leva até o sofá tenta me consolar. Eu tenho o mesmo espasmo de dor que tive na noite anterior, é como se me sufocasse. Sinto meus ossos pipocarem, a dor sufocante. E o cheiro de sangue. Começo a engasgar com o sangue que entra pelo meu nariz, queimando meus pulmões. Então para.
- Ótimo. Ainda posso diminuir a dor.
Eu ofego algumas vezes e percebo que as minhas mãos estão inclinadas sobre minha barriga de uma forma protetora. Mas a última coisa que quero no mundo é proteger o que quer que seja isso que esteja crescendo em mim. Eu o odeio com todas as minhas forças.
Dois dias inteiros se passam, enquanto o pequeno monstro cresce em mim. Hoje não consigo sair da cama direito e divido o tempo entre dormir e beber litros de água e comer a comida que Faith deixa de vez em quando. A coisa costuma não me faz vomitar o que como, mas rouba toda a energia que essa comida me dá. Está quase anoitecendo quando caio no sono.
Sonho que estou em um jardim. Corro pelo lugar, fugindo de alguém. Então sou derrubada por meu perseguidor. Ambos rimos e quando ele se vira, sou tomada por olhos azuis tão claros quanto o céu em um dia ensolarado.
- Eleanor. Sabia que viria.
- Se me pegarem aqui eu estou perdida.
- Só até a semana que vem, minha querida. Então poderemos nos casar.
Eu rio.
- Parece até um escritor romântico falando. Com ambições muito grandes para aquilo que você realmente pode alcançar.
- Não acredite no que dizem, Ellie. Meu pai não irá me deserdar se me casar com você.
- Até porque um conde sempre sonha em ver seu filho e herdeiro casado com um orfã de origem estrangeira.
- Inglesa. E não há provas de que você não seja nobre.
- Talvez eu seja uma princesa perdida. - Digo ironicamente.
- Não haja como se não fosse possível.
- Calado, Alec! Me faça acreditar que vamos mesmo poder nos casar.
- Não há dúvidas de que isso vá acontecer, minha Ellie.
Alec me beija de uma forma que me faz mesmo acreditar em suas palavras. O sonho prossegue de uma forma que me faz esquecer de qualquer pesadelo que esteja vivendo.
Acordo gritando de dor e sufocando. Tudo fica bem pior quando sinto minha pele se rasgar e sinto sangue escorrendo por minha perna. Grito ainda mais, o que piora a dor na cabeça e nos ossos. Faith entra no quarto com uma toalha na mão. Ela não consegue mais parar a dor, apenas deixa as crises - que estão sendo cada vez mais longas e piores - passarem. Sinto que uma eternidade se passou quando a dor para. E levo outra eternidade para me recuperar.
- Eu... - Digo quando Faith usa uma toalha para limpar o sangue em minha perna. - Eu... Descobri...
Soluço.
- Calma, Ellie. Não se esforce.
- Eu descobri... - Tusso cuspindo sangue - Descobri.
Respiro fundo e acabo engasgando.
- Ellie!
Sinto como se a criatura estivesse crescendo ainda mais dentro de mim.
- Faith, eu descobri... A ligação entre eu e o íncubo... E o hospedeiro. Eu era noiva do hospedeiro... Alec... Ele iria se casar comigo... Quando eu fizesse quinze anos... Não sei o que aconteceu... Eu...
- Está tudo bem, Ellie.
Ela me puxa devagarzinho para o seu braço. Eu estou tonta. Estou nervosa. Mas de meia hora se passa e eu já estou calma quando digo:
- O que você vai fazer quando a coisa nascer?
- Não sei.
- Prometa que vai matá-lo.
- Ellie.
- É um monstro, Faith. Um monstro. Você não vê o que ele está fazendo comigo?
- Não é isso, querida. É que o que eu sinto agora, é diferente de como vou me sentir quando ele nascer.
- Não é um bebê, Faith, é um monstro. - Começo a chorar. - Prometa que vai matá-lo, por favor, prometa.
- Eu prometo, Ellie.

9 de novembro de 1864.
Pode ser definido como o último dia da minha vida.
O dia em que fui morta pelo meu próprio bebê.
Tudo começou quando acordei. E entrei em trabalho de parto. Eu podia senti-lo saindo do meu corpo e usando qualquer meio para isso. Eu o sentia queimando e machucando cada centímetro do meu corpo. Não me lembro de visto nada além de vermelho. Não me lembro de ter ouvido nada além de meus gritos e minha pele sendo rasgada em partes cada vez menores. Não me lembro de ter sentido nada além de dor e o cheiro de sangue, sangue e mais sangue. Sufoquei no meu sangue, bebi meu sangue e vomitei meu sangue. Senti meu sangue escapar do meu corpo. Senti lágrimas de sangue em minha bochecha e cada vez mais sangue a minha volta. Tudo em minha volta pulsava em um vermelho tonto e cheirava a ferro. Eu podia sentir a coisa me partindo de dentro para fora. Tudo doía e sangrava.
Até que acabou. O fim pareceu mais pacífico e doce. Uma calmaria depois da tempestade. Como acordar de um pesadelo. E a última coisa que eu ouvi foi seu choro.